Número e Letra
Um menino, desde seus primeiros momentos, era encantado por número. Número de toda natureza: maior, menor, feio, esbelto, vasto, gentil, rude, impronunciável, comemorado, ostentado, esnobado, afamado, …
Certa vez descobriu que letra podia se passar por número. Isso o intrigou. Já haviam lhe falado que letra tinha o seu charme, o seu encanto, mas nunca soube dessa capacidade de se passar por número. E, como havia mais letra que número, havia muito mais disfarce do que essência, o que trazia muito jogo de cintura a letra, razão de seu encanto.
Também lhe falavam que letra existia por si só, sem papel a representar. Isso certamente não atraía o menino, pois número era o que lhe embriagava. Entretanto, soube também que número poderia se passar por uma, duas, cem, uma ou várias vidas de letra. Nada surpreendente para ele, por já saber do poder do número. Mas isso também era revelador, pois o que haveria de tão importante em letra para ser representada?
Daí o menino se viu impelido a mergulhar de cabeça em letra, a fim de descobrir o que havia de tão interessante nesta por se necessitar representar.
Tempos depois, o menino se vê enamorado também por letra. Letra de toda natureza: grande, pequena, feia, bonita, você já sabe… Agradeceu por ter feito esta descoberta ainda em vida, lá pela sua metade, um pouco ou muito menos, um pouco ou muito mais, mas em vida, e é isso o que importava. Dizem que número tem ficado enciumado. O menino não liga, diz que há espaço e carinho para ambos.